33
A MTV estreou no Brasil em 20 de outubro de 1990. A emissora pertencente ao Grupo Abril foi uma das principais vitrines para as
bandas novatas na década de 90. À época, o canal era quase que exclusivamente dedicado à exibição de videoclipes. No início, a MTV
foi transmitida com sinal aberto apenas para São Paulo. Esse alcance, ainda que temporariamente limitado, foi o suficiente para que as
bandas de rock tivessem onde mostrar seu som e sua cara em um veículo específico. Melhor do que ter o clipe veiculado em programas
cujo público não era fã de rock, como foi comum durante os anos 80. A partir da segunda metade da década, a MTV começou a ter êxito
comercial com o lançamento de discos "acústicos" e ao vivo. Esses formatos foram importantes para resgatar e dar sobrevida ao rock dos
anos 80, já que quase todas as bandas do período gravaram um disco em parceria com a emissora. O case de maior sucesso na década foi
do Titãs, com o disco
Acústico
(1997), que atingiu a marca de 1,7 milhões de cópias vendidas.
Porém, o grande feito desse formato foi salvar bandas que estavam no ostracismo. O Capital
Inicial, que não chegou a ser muito famoso nos anos 80, passou por várias mudanças em sua
formação nos 90.Mas só conseguiu atingir sucesso absoluto ao gravar um acústico, em 2000.No
mesmo ano, o Ira! voltou ao estrelato ao gravar um
Ao vivo MTV
. E durante a década de 2000,
a emissora resgatou vários outros representantes do rock oitentista. Em crise profissional ou não,
Lobão, Ultraje a Rigor, Kid Abelha e Engenheiros do Hawaii toparam participar dessa proposta
da MTV. E, com exceção de Lobão, que vendeu pouco para a época (27 mil cópias), todos se
deram bem com o desplugamento dos instrumentos. Ou seja, se a MTV foi vitrine para a
renovação do rock brasileiro, também foi passarela para muitos artistas mais "velhos" se
reerguerem ou simplesmente se conectarem com um público mais jovem.
OFAtOrMtV
MirANDA, prODUtOrEDONODOBANGUELA
SELOLANÇOUBANDASCOMORAIMUNDOS,
MASKAVO,MUNDOLIVRES/AELITTLEQUAIL
manteve-se na ativa. Porém, apesar de toda a influência que
exerce no underground atual, há quem discorde da relevância e
qualidade da banda a partir da mudança de rumo. “Foi muito
prazeroso fazer o primeiro disco dos Los Hermanos, que pro-
duzi junto com o Rafael Ramos. Na época, o João Augusto
(Deck) me pediu para ajudar, pois o Rafael ainda era muito
novo. Ele descobriu a banda e nós, juntos, definimos o repertó-
rio, gravamos e mixamos no Midas. A banda era muito aberta e
talentosa”, relembra Bonadio.
› sELOs E prODUtOrEs
Uma característica dos anos 90 foi a criação de selos segmentados
dentro das próprias gravadoras ou até mesmo independentes.Es-
sas novas plataformas de gerenciamento de carreiras e lançamen-
to de discos fomentou grande parte das principais bandas da
década com uma estrutura enxuta e orçamentos limitados.
O selo Chaos, criado pela Sony em 1993 para lançar artistas de
rock, foi o precursor e mais bem-sucedido exemplo desse forma-
to. Skank, Chico Science & Nação Zumbi, Jota Quest, Penélope
e muitos outros artistas se estruturaram no mercado após estrear
nessa divisão da multinacional. O Banguela Records, atrelado à
major Warner e dirigido por Carlos Eduardo Miranda em par-
ceria com a banda Titãs, contratou Raimundos, Maskavo, Mun-
do Livre S/A, Little Quail e Graforreia Xilarmônica. A BMG,
por sua vez, criou o Plug. Entre os mais importantes, também é
necessário lembrar da Tinitus, de propriedade de Pena Schmidt.
“Acredito que esses selos foram importantes para a criação de
cena independente – que desaguou na fundação da ABMI em
2002 – e do cenário indie em geral”, relata Pena, contextualizan-
do o destino que a música traçaria a partir de então.
Todo período importante da música mundial é também fruto
da habilidade de produtores musicais que conseguem implantar
novas linguagens musicais. Se nos 80 Liminha, Marcelo Sus-
sekind e Pena Sch-
midt foram os pro-
fissionais
mais
importantes para o
rock, nos 90 eles di-
vidiram os méritos
com novatos criati-
vos e em alta. Tadeu
Patola, Dudu Maro-
te, Tom Capone,
Rick Bonadio, Mi-
randa, Rafael Ra-
mos, Paul Ralphes, Chico Neves e Mario Caldato revitalizaram
o datado som dos anos 80. Nessa época, a qualidade dos equi-
pamentos e dos estúdios também melhorou consideravelmente.
Com o real valorizado e a economia em franca recuperação,
adquirir produtos importados ficou muito mais simples do que
na época da ditadura.
E, assim, os discos brasileiros começaram a soar mais profissio-
nais, com uma qualidade sonora muito próxima da produção
estrangeira de rock. Claro que além das melhorias técnicas, hou-
ve também um intercâmbio com produtores gringos trabalhando
com bandas nacionais, como Suba, Paul Ralphes, Jack Endino e
Mark Dearnley. Essas relações ajudaram o rock brasileiro a parar
de soar como pastiche mal feito de banda estrangeira.
Vale mencionar também que, nos anos 90, uma publicação da
Editora Espetáculo,UNDERGUIDE, incentivou muito a cena
e foi importantíssima para a maioria das bandas lançadas na
época. Editada por Daniel Eduardo Gomes, chegou inclusive a
criar um selo,Garimpo, em parceria com a discográfica Paradoxx,
utilizado somente para lançar bandas emergentes.Muitos nomes
iniciantes foram capa desta publicação, como Planet Hemp, Pato
Fu, Charlie Brown Jr. e O Rappa.
DIVULGAÇÃO
1...,23,24,25,26,27,28,29,30,31,32 34,35,36,37,38,39,40,41,42,43,...72