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HISTÓRIAS
Alterio e com Luiz Toledo, importantíssimo publicitário que
trabalhava na época para a DPZ, agência que cuidava da propa-
ganda do Palace.
Eles me apresentaram os anúncios de jornais e os jingles de
rádio e televisão. O texto era: "o Palace vai abrir as portas para
a música sertaneja". E a ilustração mostrava bandeirinhas de
festas de São João. Fiquei chocado. Eles ainda não haviam
percebido o espírito da coisa e estavam promovendo os shows
como se fossem festas caipiras. Talvez tivessem associado os
dias em que íamos fazer os shows com as festas juninas típicas
do período. “Olha, não é nada disso. Estamos falando de um
fenômeno. É uma atração que leva dezenas de milhares de
pessoas a seus shows ao ar livre em todas as cidades onde se
apresenta. Que lotou, dias atrás, o templo da música clássica e
popular de Curitiba, o Teatro Guaíra, onde até então nenhum
artista da música sertaneja havia se apresentado, quebrando
um tabu de dezenas de anos”.
Neste espaço considerado sagrado pelos paranaenses, nesta sua
primeira performance, em 6 de junho, numa gelada quarta-feira,
a dupla teve que fazer um show extra na mesma noite para aten-
der milhares de a–cionados que não conseguiram comprar os
ingressos para a sessão normal, que se esgotaram uma semana
antes. E nem havia sido colocada a mídia de televisão no ar.
E continuei argumentando: “a dupla está mostrando essa sua
força convocatória aqui também.Os ingressos dos shows já estão
praticamente vendidos para as cinco noites. Essa dupla é um
grande fenômeno. A mensagem deve ser essa: fenômeno”, enfa-
tizei. Entreguei todas as matérias que haviam sido publicadas em
Curitiba e também nos principais jornais de São Paulo ao Luiz
Toledo e pedi que ele lesse o material para ter uma ideia do que
estava realmente acontecendo com a dupla. Assim teria as infor-
mações corretas para criar outro anúncio. Quando –z isso, senti
um grande mal estar na sala de reuniões do Palace. O Fernando
Alterio, bastante nervoso, disse: “que fenômeno, Tom? Para com
essa história. Olha, já que todos os ingressos estão vendidos, não
precisaremos mais de mídia. Não vamos fazer propaganda do
show nem nos jornais, nem na rádio, nem na TV”.
“Mas isso está no contrato. Você tem que cumprir o contrato”,
ponderei.“Caso você não faça isso,vamos cancelar as apresentações”,
ameacei. O José Homero –cou pálido. Era muito importante para
ele que sua dupla –zesse esses shows. Mas a reunião terminou sem
nenhum acordo. Fomos embora sem saber o que iria acontecer.
Para nossa sorte, no dia seguinte, logo pela manhã, o Fernan-
do me ligou. “Olha,Tom, o Luiz Toledo criou três novos textos.
O primeiro diz o seguinte: Chitãozinho & Xororó, assista no
Palace ou em Las Vegas.”
Eu respondi: “não precisa ler os outros dois. Esse é o texto que
queremos”. Ele ainda tentou me convencer a conhecer as outras
opções mas não aceitei. E essa mensagem criativa e brilhante do
Luiz Toledo deixou claro que se a dupla tinha talento para se
apresentar emLas Vegas para platéias de grande poder aquisitivo,
por que não para o público classe A que frequentava o Palace?
Este anúncio foi publicado nos mais importantes jornais de
São Paulo. As chamadas nas rádios utilizaram o mesmo texto e
a propaganda na televisão enfatizou a internacionalização de
Chitãozinho & Xororó.
O resto da história todos conhecem. Os shows do Palace lota-
ram e foram um tremendo sucesso. Logo no primeiro dia das
apresentações, muitos jornalistas, entre eles Maria Tereza Paglia-
ro, da Folha de S.Paulo e Ricardo Kotscho, do Jornal do Brasil,
ouviram e publicaram em seus matutinos a declaração de um
entusiasmado Fernando Alterio: “Eu nunca vi nada igual em cin-
co anos de Palace”. Realmente foi um êxito sem precedentes. Foi
o recorde de todos os tempos de público sentado da casa e a
Globo, num esforço jornalístico, transmitiu diretamente do Pala-
ce cenas do show de domingo, ao vivo, no meio do
Fantástico.
E vi e ouvi, após este show, o Fernando Alterio sendo entre-
vistado pelo Otávio Mesquita. “Fernando, o que você tem a
dizer sobre o que aconteceu nestes últimos dias com Chitãozi-
nho & Xororó aqui no Palace?” Ele respondeu:
“SEMDÚVIDA, UMFENÔMENO!”
OESTADODESÃOPAULO 29/06/1988 TEXTO:RICARDOSOARES
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