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Nesse meio tempo,mais precisamente emmaio de 1988,Mo-
zart Primo, um atuante produtor de espetáculos em Curitiba,
me procurou. Trazia uma sugestão: por que não fazer um show
de Chitãozinho & Xororó no Teatro Guaíra? A proposta me
pareceu descabida. “Se o Palace não havia gostado da ideia,
como propor o show ao Teatro Guaíra? O templo da música
clássica, do famoso Ballet, o espaço dos shows dos grandes ar-
tistas internacionais e da elite da MPB. Pra começar, a direção
do teatro nem aceitaria conversar sobre o projeto.” Esse foi o
discurso que ’z ao bem intencionado Mozart.
Mas ele insistiu. “Já conversei com a direção do Guaíra. A
opinião deles é a seguinte: levar Chitãozinho & Xororó para o
teatro vai provocar uma grande polêmica e isso será salutar para
chamar a atenção para os grandes projetos que eles promovem.
Até o governador do Paraná, o Álvaro Dias, acha que a apresen-
tação da dupla irá democratizar o espaço”.
Após acertar a data do show em Curitiba, voltei ao Palace
para falar com Fernando Alterio. Contei que havia assinado
contrato com o Teatro Guaíra. Era um fato que poderia mudar
sua opinião. A’nal todas as grandes tours dos mais importantes
artistas do Brasil eram iniciadas naquele local. Ele mostrou-se
animado com a ideia e acabou assinando o contrato para cinco
apresentações da dupla, respectivamente nos dias 29, 30 de ju-
nho e 1º, 2 e 3 de julho de 1988. Só mais tarde descobri que não
foram meus argumentos que o convenceram. Na verdade, seus
funcionários insistiram muito pela contratação. E foram decisi-
vos para que ele aceitasse minha proposta.
ESTRATÉGIADE DIVULGAÇÃO
Um mês antes do evento, contratei um dos mais competentes
assessores de imprensa que conheci: Paulo de Simone. Ele tinha
as portas abertas dos principais jornais e revistas do Brasil. Não
era para menos, ele era responsável pela divulgação dos espetá-
culos teatrais de Bibi Ferreira. Era a pessoa certa para o que eu
necessitava naquele momento. Minha estratégia foi a seguinte:
organizei um cronograma de quatro semanas. Na primeira,
Paulo de Simone precisaria conseguir publicar uma nota falan-
do do show no Caderno 2 do Estado de S.Paulo, cujo editor era
Walcir Carrasco. Era o espaço mais respeitado dos jornais pau-
listas. Eliminaria a barreira do preconceito que a música serta-
neja ainda provocava nos anos 80. Na segunda semana tentaria
veicular a notícia nas colunas sociais. Era mais uma tentativa de
mostrar que não era mau gosto apreciar esse gênero de música.
Na terceira semana enviaria press-releases para toda a imprensa
e na quarta, então, a publicidade contratada pelo Palace com-
pletaria a campanha promocional dos shows. Conseguimos
nossos objetivos na primeira e na segunda semanas e, em razão
disso, não houve obstáculo algum para que Paulo de Simone nos
abrisse espaço nas colunas de música, eventos, entretenimento,
etc., de todos os meios de comunicação.
Nesse meio tempo, conversando com Rubens Ciasca, grande
amigo e, na época, diretor da Varig, falei da repercussão favorá-
vel que a notícia dos shows estava conseguindo nos jornais. Ele
me perguntou: “Tom, essa dupla é muito famosa no interior, não
é?” Após minha resposta a’rmativa, ele comentou: “todos os
anos, o Ciro Batteli faz um show com o Roberto Carlos no
Caesars Palace, em Atlantic City, nos Estados Unidos. E o cas-
sino do hotel freta um avião de nossa companhia para levar
apostadores brasileiros para jogar lá. E, além das passagens aé-
reas que são grátis, presenteiam esses jogadores também com
hospedagem. Agora o Ciro assumiu a direção do Caesars, em
Las Vegas, e está pensando em levar artistas que tenham muita
popularidade e que possam atrair apostadores brasileiros.”E fez
uma nova pergunta: “você acha que Chitãozinho & Xororó te-
ria força para levar fazendeiros do interior do Brasil para jogar
em Las Vegas?” Eu respondi que sim. O Rubens prometeu en-
tão falar com o Ciro e, assim que conseguisse contato, me cha-
maria para dizer o que ele achara da ideia.
Contei a conversa para o Paulo de Simone e ele, sem pesta-
nejar, enviou um press-release para a imprensa dizendo que
Chitãozinho &Xororó seriam convidados para se apresentar no
Caesars Palace de Las Vegas.Vários jornais publicaram a notícia
dizendo que a dupla, que iria atuar no ’nal do mês no Palace,
estava sendo sondada para fazer parte da agenda dos espetácu-
los do grande hotel americano. Isso nos ajudou muito. A notícia
despertou grande interesse do público e, aproveitando essa maré
favorável, o Palace, inteligentemente, colocou os ingressos à
venda com quinze dias de antecedência. O Paulo de Simone
criou outro release dizendo que a venda dos ingressos começaria
às 13:30 horas em ponto, no dia 14 de junho.
Boa parte da imprensa publicou essa informação. No dia
anunciado, horas antes da abertura dos guichês da casa, já havia
uma ’la enorme de pessoas aguardando o momento da compra
dos ingressos. Uma semana antes dos shows, os ingressos já
estavam praticamente esgotados e tivemos que repetir o fenô-
meno ocorrido no Guaíra: abrimos uma sessão extra no sábado,
dia 2 de julho.
Nessa mesma semana tivemos uma reunião com Fernando
POPULARDATARDE 11/06/1988
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