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»Mesmo atuando como executivo de grava-
dora, continua trabalhando com produção?
O que tem feito atualmente?
Desde que entrei, continuo produzindo. Fiz, entre
outros projetos, Caetano Veloso e Maria Gadú,
junto com Rodrigo Vidal, e acabei de fazer o DVD
do Filipe Catto.
» Como produtor, comparando a época em
que você chegou por aqui e omomento atual,
como enxerga o Brasil em relação às oportu-
nidades de trabalho?
Mudou muito nos quase 17 anos em que estou
aqui. Tem muito mais produção independente. E
os orçamentos e o tempo para gravar são mais
apertados agora. Temos menos grandes produções. E o foco está mu-
dando, com a migração dos grandes estúdios para home estúdios.Mas
essa é uma revolução mundial. O produtor hoje em dia tem quer ser
mais ágil e flexível no jeito de trabalhar.
» Você já trabalhou com muitos artistas de rock, pop e reggae.
Achapossível para esses gêneros recuperar espaçonomercado?
A música sempre anda em ciclos e o pop, o rock e o reggae estão menos
em evidência mundialmente há um bom tempo. Acredito que vão vol-
tar e vão recuperar espaço de novo. Em 1961, a gravadora Decca
dispensouThe Beatles porque bandas com guitarras estavam em baixa.
»Hoje, lançam-se muitos discos com produções padroniza-
das. O que acha disso?
Infelizmente é verdade. Às vezes é difícil diferenciar quem é quem
quando escuto músicas no rádio porque a sonoridade dos discos em
alguns gêneros é muito parecida. Acredito que música sempre precisa
de novidades sonoras. Muitos discos de estúdio estão próximos do
formato ao vivo, ou seja, não utilizam o estúdio como um instru-
mento de criação.Mas também, em outras áreas, tem discos extrema-
mente diferentes. Acho que temos uma MPB nova, por exemplo, com
muitos trabalhos com sonoridade interessante.
» Você tenta impor suas preferências no estúdio ou é do tipo
que gosta de ouvir a opinião do artista?
Nunca tento impor meu gosto quando estou gravando um disco, mas
sempre tenho referências e novidades para mostrar novas possibili-
dades. Artistas em geral gostam dessa troca de influências e novida-
des e acredito que isso faz parte do processo criativo de um disco.
»Hoje, a tecnologia de gravação é de fácil acesso.No que essa
facilidade ajudou e emque medida atrapalha os novos profis-
sionais do ramo?
A tecnologia acelerou o processo de gravação e tornou mais fácil atin-
gir uma qualidade satisfatória. Acho que tem uma geração boa de
técnicos que usa plug-ins e edição de um jeito criativo. Porém, per-
demos um pouco a arte de gravar. O número de grandes estúdios
diminuiu e poucos novos técnicos têm a chance de aprender a gravar
orquestras, baterias, instrumentos acústicos, amplificadores numa
sala legal, com numerosas opções de microfones.
»O Filipe Catto foi uma aposta sua?
Sim. Acho ele um artista incrível e importante. E numa gravadora
como a Universal, é preciso buscar um ‘mix’ de artistas de vários es-
tilos para ter um cast legal.
»Hoje, quais são seus principais desafios dentro da Universal
e o que já mudou desde sua contratação?
O principal desafio é o mesmo de sempre, tentar fazer a melhor mú-
sica possível. O jeito que as pessoas consomem música e o processo de
gravação estão mudando bastante. Estamos no meio de uma revolu-
ção onde há muito mais coisas envolvidas e tudo acontece de forma
tão rápida. Talvez um dos maiores desafios seja não só acompanhar
as mudanças, mas inovar também.
» Você tem acompanhado o cenário indie nacional? O que
tem percebido de bom nesse segmento, que pode ser traba-
lhado em uma grande gravadora?
Acompanho o cenário indie. Recentemente contratei a banda de rock
Selvagens à Procura de Lei e fizemos contrato de distribuição com
outros. A lista de bons nomes independentes é grande. Criolo, Emicida,
Rael da Rima, Tulipa Ruiz, MoMo etc. Acho que qualquer tipo de
artista pode ser trabalhado por uma gravadora como a nossa – sozinho
ou emparceria com seu selo, como fazemos com o Urban Jungle, da Céu.
Bom lembrar que NWA, Public Enemy, Beastie Boys,The Sex Pistols,
MarilynManson,The Clash e Nirvana trabalharam em parceria com
gravadoras. Trabalhar com artistas ou selos alternativos pode ser
muito saudável. Os dois lados podem ter benefícios.
"A música sempre anda em ciclos e o pop, o
rock e o reggae estão menos em evidência
mundialmente há um bom tempo. Acredito
que vão voltar e vão recuperar espaço de
novo. Em 1961, a gravadora Decca dis-
pensouThe Beatles porque bandas com
guitarras estavam em baixa."
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