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» SUCESSO! - Por que escolheu excursionar como artista
solo e não com o Engenheiros do Hawaii?
HUMBERTO GESSINGER
- O disco que estou gravando não
tem uma banda fixa. Convidei vários músicos que admiro, inclusive
alguns que tocaram comigo em diferentes formações do EngHaw. Por
isso resolvi lançá-lo como disco solo. Meu coração tá pedindo isso no
momento: tocar com várias pessoas, fazer a música dialogar, conectar o
som do sul com o Brasil e o mundo.
»Quais músicos te acompanharão nessa empreitada?
Estarão comigo na estrada o Rodrigo Tavares na guitarra e o Rafael
Bisogno na bateria. Eu volto ao baixo, além de tocar algumas músicas
nos teclados e acordeon. Tavares vem da Fresno, Rafael é do circuito
da música gaudéria, regional. É um mix que deu muito certo.
»O duo Pouca Vogal (você e o Duca Leindecker) foi um pro-
jeto muito exitoso nos últimos dois anos. Por que resolveu
interrompê-lo nesse momento?
Ele pode voltar no futuro. Mas eu estava com saudade das possibili-
dades que uma banda oferece. Estava compondo muito, porém me
sentia um pouco perdido em relação ao meu próprio material e em
relação ao que fazer com as músicas novas. Até que, numa noite, tirei
o baixo do case e comecei a tocá-las. Num instante, tudo fez sentido.
» Recentemente, além de uma obra sobre futebol, você lan-
çou um livro de memórias e reflexões. Como estes trabalhos
foram recebidos pelo público e crítica?
Muito bem recebidos. Os livros têm me aproximado mais do meu
público. Em junho lançarei mais um.
» Como artista, você vivenciou períodos de glória do rock e
outros nem tanto. Comparado a outros tempos, como está o
panorama atual do gênero?
Hoje em dia, a tecnologia (usada de forma inteligente) nos deixa
mais livres. Por outro lado, as pessoas parecem estar mais acomoda-
das – tudo é muito superficial.
» Dos artistas dos anos 80, você talvez seja o que menos se
apoie nos sucessos do passado para se manter em evidência.
Como consegue convencer empresários e gravadoras a apos-
tar nessas escolhas “arriscadas”?
Eu desenvolvi um canal direto com meu público. Desde sempre, mes-
mo antes da internet. E agora, com as redes sociais, é ainda mais
fácil falar com as pessoas que se interessam pelo meu trabalho, sem
passar pela grande mídia. Quanto aos empresários e gravadoras, só
há uma maneira de convencê-los: lotando shows e vendendo discos.
» Durante muito tempo, você esteve inserido no universo das
grandes gravadoras.Hoje, está independente.Tem sido posi-
tiva essa escolha?
É possível (e necessário) ser mais ágil nos dias de hoje. As grandes
estruturas tendem à lentidão. Um trabalho como o Pouca Vogal, por
exemplo, não seria possível numa grande gravadora. Depois de
pronto, fizemos uma parceria com a Som Livre, mas não imagino
uma gravadora, nos anos 80 ou 90, apoiando um projeto tão arris-
cado de um artista já consagrado.
» Na década de 90, o Engenheiros foi massacrado diversas
vezes pela revista
Bizz
, importante publicação da época.
Como você encarava a má vontade dos críticos, ao mesmo
tempo em que tinha uma base de fãs tão fiel?
Desde que o mundo é mundo rola este lance de as bandas mais popu-
lares serem mal vistas pela crítica. É um clichê. Logo descobri que as
críticas eram motivadas muito mais pelo nosso sucesso do que por
outra coisa qualquer – e relaxei. Não condeno os caras, cada um faz
o que acha certo.
» Você sempre foi fã de rock progressivo. Hoje, há muitas
bandas resgatando o estilo com certa habilidade pelomundo.
Tem acompanhado esse movimento?
Tenho. Eu acho o
Abraçaço
, do Caetano Veloso, um disco progressi-
vo. E bom pra caramba!
» Como tem sido sua relação musical com oTavares, ex-inte-
grante da Fresno?
Nossa relação tem sido a melhor possível. Escrevemos juntos uma
música que estará no disco. Ele é um baita músico. E conhece pro-
fundamente meu repertório. Às vezes parece que a gente toca junto
há um tempão. Acho que o trio que montei pra cair na estrada vai
dar super certo pois temos várias coisas em comum, mas cada um tem
sua onda particular.
»O som do disco mais famoso do Engenheiros,
O papa é pop
,
soa datado atualmente. Isso o incomoda ou você gosta dessa
sensação de um trabalho não ser atemporal?
Bah, tudo que eu sempre quis foi ser datado. Acho que é coisa de
capricorniano se relacionar bem com o tempo. Querer evitar isso é
algo infantil e pretensioso. Sou um sobrevivente e me orgulho dos
calos nos dedos que as cordas do contrabaixo criaram e das rugas que
o tempo trouxe.
» Você diz que o sucesso do Engenheiros é improvável. Qual
o motivo de achar isso?
Cada dia que passa fica mais misterioso este sucesso. O que pode ser-
vir de motivação para quem está começando: fizemos as coisas à nos-
sa maneira e deu certo. Então, mãos à obra, moçada.
"Eu desenvolvi um canal direto commeu
público. Desde sempre, mesmo antes da in-
ternet. E agora, com as redes sociais, é ain-
da mais fácil falar com as pessoas que se in-
teressam pelo meu trabalho, sem passar pela
grande mídia. Quanto aos empresários e
gravadoras, só há uma maneira de conven-
cê-los: lotando shows e vendendo discos".
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