SUCESSO#163 - page 66

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por onde anda
P
OR
T
HIAGO
M
OURATO
E
m 1975, com apenas 24 anos, o baiano Hyldon já era um
produtor conhecido e respeitado no meio. Então con-
tratado da PolyGram – atual Universal –, ele foi respon-
sável por produzir e tocar em álbuns consagrados de artistas
como Odair José, Erasmo Carlos,Wilson Simonal, Luis Melo-
dia e Wanderléa, entre outros. Porém ainda faltava lançar o
principal disco de sua carreira.
Desde que chegou ao mercado, naquele mesmo ano, o LP
Na
rua, na chuva, na fazenda
tem presença obrigatória na discogra‘a
dos amantes da soul music brasileira. Além da faixa-título, o
álbum tem canções que tocaram bastante nas rádios, como
Na
sombra de uma árvore
,
As dores do mundo
e
Acontecimento
. Para
comemorar as quatro décadas do lançamento, Hyldon traz
agora o CD
Na rua, na chuva, na fazenda – a origem
.
Como o título indica, o trabalho apresenta as 12 canções
do álbum original da forma como elas surgiram, na base do
"voz e violão". A princípio, o projeto deveria ser restrito à
internet, algo parecido com essas videoaulas de violão que
estão disponíveis em alguns sites. “Mas a coisa foi ganhando
proporção e acabou virando disco”, explica o cantor.
A turnê comemorativa teve início nos dias 9 e 10 de janeiro, no
Sesc Belenzinho, em São Paulo. No dia 23 de junho, será a vez
do Teatro Net Rio, na capital carioca. Ao contrário do que acon-
tece no disco, nas apresentações ao vivo o artista conta com sua
banda, Zona Oeste.
ABATALHA PELODISCO
A sequência matadora de produções citadas no primeiro parágra-
fo serviu de aquecimento para o debut fonográ‘co de Hyldon.
“Só aceitei trabalhar na PolyGram com a condição de poder gra-
var meu próprio disco. Entre uma produção e outra, ele ia regis-
trando suas canções.
Na rua, na chuva,na fazenda (Casinha de
sapê)
foi a que mais chamou a atenção de Jairo Pires, executivo da
companhia. Lançada em um compacto – que também incluiu
Meu patuá
–, em 1973, a faixa estourou no Brasil inteiro, abrindo
caminho para um segundo compacto, lançado em 1974, com
As
dores do mundo
e
Sábado e domingo
. “Esses compactos estouraram
sozinhos, sem trabalho de divulgação. Os programadores desco-
briram e começaram a tocar por conta própria”.
Apesar do sucesso, a relação de Hyldon com a PolyGram nun-
ca foi fácil.A resistência do artista em ceder às ordens que vinham
de cima acabou adiando em dois anos o lançamento do primeiro
LP. “A direção queria que eu ‘zesse apenas um lado do disco com
músicas minhas.O outro seria de covers,como
Angie
,dos Rolling
Stones. Não aceitei, pois era compositor, não intérprete”, relem-
bra. Entre 1973 e 1975, Hyldon e os executivos da gravadora
viveram em cabo de guerra. Ao mesmo tempo em que batia o pé
em relação ao projeto para seu disco, ele continuava produzindo
os maiores sucessos do cast da PolyGram. “Em oito meses, meu
CLÁSSICO
DESPIDO
PARAFESTEJAR40ANOSDOCLÁSSICO
NARUA,NACHUVA,NA
FAZENDA
,
HYLDON
RELANÇADISCOEMVERSÃOVOZ E VIOLÃO
DIVULGAÇÃO
disco foi três vezes para a fábrica. Sempre voltava quando o An-
dré Midani (então presidente da gravadora) descobria. No ‘nal
das contas, ele liberou a fabricação só para não me perder como
produtor. Para se ter uma ideia, em 1975, dos dez álbuns mais
vendidos da companhia, quatro eram produzidos por mim”.
Quando o disco chegou ao mercado, Hyldon se cansou das
batalhas com a gravadora, largou tudo no Brasil e foi espairecer
uns dias em Nova York (EUA). “Acabei ‘cando oito meses por
lá. Fui para ver de perto as coisas de que gostava. Fui conhecer
o Harlem, o teatro Apollo. Vi shows de Marvin Gaye,Tempta-
tions,Al Green e ainda comprei um piano.Tive até convite para
gravar por lá, mas quis regressar porque estava com saudade do
Brasil”, conta. Ao voltar e novamente discordar dos planos da
empresa para sua carreira, Hyldon decidiu gravar um disco sem
qualquer apelo comercial –
Deus, a natureza e a música
– que,
por consequência, passou despercebido pelo público. “Queria ir
embora da Polygram, então ‘z um disco de despedida mesmo.
Era totalmente experimental, com músicas mais longas e algu-
mas instrumentais”.
Como desejado, Hyldon saiu da gravadora. Na verdade, de al-
gumas gravadoras. Seus trabalhos posteriores não repetiram a
mesma repercussão de
Na rua, na chuva, na fazenda
. “Eu, Tim
Maia e Cassiano brigamos com várias discográ‘cas. O pessoal
chamava a gente de
Esquadrilha da fumaça
”, diverte-se. “Não me
arrependo da forma como defendi minha arte. Até hoje, não dei-
xo as coisas externas in®uírem na minha música, porque não
posso expressar meu sentimento se estiver preso à ditadura de
modismos”, a‘rma. “Meu único arrependimento é não ter me
preparado melhor para enfrentar uma multinacional”.
"OPRESIDENTEDAPOLYGRANANDRÉ
MIDANI SÓACEITOU LANÇAR MEUDISCO
PORQUEEUERAUMDOSPRINCIPAIS
PRODUTORESDACOMPANHIA"
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