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BANCO DE DADOS
P
OR
H
ELDER
M
ALDONADO
A
falta de preservação de acervos culturais sempre foi um
problema no Brasil. Muito do que já foi produzido no
país simplesmente se perdeu com o passar dos anos. O
musicólogo Ricardo Cravo Albin sempre se incomodou com
esse descaso com o passado artístico nacional.
Radialista,produtor musical e ex-diretor doMuseu da Imagem
e do Som, da Embra‚lme e do Instituto Nacional de Cinema,
Albin resolveu ele mesmo criar um instituto que resgatasse e pre-
servasse a memória da música nacional. Assim, em 2001, fundou
o Insituto Cultural Cravo Albin (ICCA), no Rio de Janeiro. Sem
auxílio do poder público, o projeto teve início apenas com obras
do seu acervo pessoal, que estão abrigadas em imóvel também
doado pelo idealizador. “Um dos grandes males que afetam o
Brasil é o pouco apreço das elites pela preservação dos nossos bens
culturais. Por isso desisti de esperar ajuda de terceiros e abri mão
do meu acervo e do meu patrimônio familiar em prol da causa.
Foi uma atitude radical, mas necessária”, comenta Albin.
O ICCA foi criado para ser uma entidade civil sem ‚ns lucra-
tivos, que tem como ‚nalidade promover e incentivar atividades
de caráter cultural no campo da pesquisa, divulgação, defesa e
conservação do patrimônio histórico e artístico nacional. “Hoje
temos muito doadores particulares, que entregam de coleções de
MEMÓRIA
preservada
FUNDADOEM2001,
INSTITUTOCRAVOALBIN
ÉRESPONSÁVELPELODICIONÁRIO
DAMPBEPELAPRESERVAÇÃODEARQUIVOVARIADOCOMOBRASMUSICAIS
DIVULGAÇÃO
discos a livros, rádios antigos, partituras históricas, vídeos e ‚gu-
rinos. Mas ainda encontramos di‚culdade para resgatar peças
fora do Rio, já que nossa política ‚nanceira é austera e não dis-
pomos de caminhões para buscar esse artigos”, lamenta.
Com o reconhecimento público, o Instituto também vem
conquistando aos poucos a con‚ança de entidades públicas e
privadas. Atualmente, conta com o apoio da Faperj e ajuda da
Finep, UFRJ, Unirio e ICCMU (de Madri/Espanha). “Temos
também ido atrás de apoio através de leis de fomento. Dessa
forma, conseguimos auxílio do BNDES para digitalização de
parte do nosso acervo, como 500 ‚tas VHS. Mas esse é o tipo
de tarefa que nunca tem ‚m, pois sempre recebemos material
novo. Em breve, receberemos itens do acervo do Canecão e da
família Saez, de Taubaté”, exempli‚ca Albin.
DICIONÁRIODAMPB
Além da preservação de acervo, o ICCA se destaca por ter criado
e implantado o
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasi-
leira
. Com cerca de dez mil verbetes e com atualizações diárias, é
uma obra de referência para músicos, estudiosos e jornalistas. “A
música precisa ser documentada, registrada e relembrada de for-
ma o‚cial. E antes do dicionário, era muito complicado pesquisar
com precisão informações sobre os músicos brasileiros”, explica
Albin. “Mas apesar da abrangência do projeto, ainda temos mui-
to a fazer. Nossa música é extensa e poderia gerar muito mais do
que 10 mil verbetes. Por isso sempre peço a músicos e bandas
pro‚ssionais que entrem no nosso site para atualizar, inserir e
corrigir informações. Só com a participação da classe artística
esse dicionário ‚cará cada vez mais abrangente”.
A ressalva de Albin faz sentido. Bancos de dados que abordam
outros segmentos artísticos pelo mundo contam com volume de
informação in‚nitamente maior. “Precisamos de colaboradores
no Brasil todo. O país é enorme e cheio de cenas pro‚ssionais
muitas vezes restritas a regiões pouco acessíveis, das quais não
conseguimos quase nenhuma informação”, exempli‚ca.
Outra meta do ICCA é apoiar o ensino de história da MPB
nas escolas, por meio de um kit desenvolvido pela entidade. O
projeto conta com pastas didáticas que reúnem gravações, carta-
zes e a história da MPB em seis livretos/DVDs que abordam os
temas como "O samba dos bambas" e "Os 50 anos da Bossa
Nova". “O projeto visa fazer com que a criança e o adolescente se
sintam atraídos pela história da música brasileira. A ideia é que
as prefeituras façam parcerias para inserir o kit na grade curricu-
lar das escolas – o que, aliás, já tem acontecido”, cita Albin.
Em paralelo, o Instituto pretende aproveitar o recebimento
de turistas na Copa de 2014 e nas Olimpíadas de 2016 para
aumentar a realização de eventos culturais, saraus, seminários e
criação e produção de eventos musicais. "Será uma forma de
popularizar o trabalho do instituto”, comenta Albin.
RICARDOCRAVOALBIN, FUNDADORDO INSTITUTO
COMCERCADEDEZMILVERBETESEATUALIZAÇÕES
DIÁRIAS, DICIONÁRIOCRAVOALBINÉREFERÊNCIA
PARAMÚSICOS, ESTUDIOSOSE JORNALISTAS
1...,48,49,50,51,52,53,54,55,56,57 59,60,61,62,63,64,65,66,67,68,...72