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HISTÓRIAS
P
OR
T
OM
G
OMES
M
eu verdadeiro nome é Antonio Carlos Gomes. Se eu
fosse música, desde o batismo, seria um plágio. Mi-
nha mãe dizia que não sabia que o compositor de
O
Guarani
, música que ela ouvia todas as noites na abertura de
A
Voz do Brasil
, programa ocial obrigatório do governo, tinha o
mesmo nome que ela escolheu para mim. Mas o som de
O
Guarani
era a senha para ela desligar o rádio. Ela detestava as
notícias ociais.
Até completar 16 anos, estudei no Colégio Estadual da Penha
e era conhecido como Carlos Gomes pelos meus colegas. Era
uma escola muito rígida e os professores muito exigentes. Nas
férias de julho de 1960, já sabendo que não conseguiria passar de
ano pelas péssimas notas que havia tirado em Latim no primeiro
trimestre, troquei de escola. Fui para o Colégio Alfredo Pucca, no
centro da cidade. E
passei a estudar na
mesma sala onde
Demetrius, cantor e
compositor já famo-
so, e Marcelo Gas-
taldi, ator bastante
conhecido, cursa-
vam o 1o. clássico
(equivalente ao pri-
meiro ano do ensino
médio de agora).
Num dia em que
alguns professores faltaram, todos nós aproveitamos a folga e
fomos para um cinema perto da escola. O lme que assistimos
foi
Aventuras do Pequeno Polegar
. O nome em inglês:
Adventures
of Tom umb
. Na saída do cinema, gracejando com minha pe-
quena estatura (eu media apenas 1, 55 m), Demetrius me disse:
"E aí Tom–umb, gostou do lme?" Os nossos colegas acharam
graça e, desse dia em diante, virei Tom para todo o pessoal da
minha classe. E esse apelido cou e me acompanha até hoje.
Para chegar ao colégio eu passava pelo Viaduto Santa Egê-
nia e, lá de cima, via os operários na construção do edifício
Zarzur. Vê-los trabalhando me inspirou a compor uma música
chamada
Edifício de Paixão
. A letra, bem simples e pueril, re›e-
tia a maneira de compor de um adolescente dos anos 60.
Num domingo, em 1961, indo com Demetrius ao programa
Vitrola Mágica
, apresentado por Enzo de Almeida Passos, no
estacionamento de uma grande loja chamada EletroRadiobrás
e transmitido pela rádio Bandeirantes AM (ainda não existia
FM), conheci Roberto Carlos. Pouco conhecido ainda, vinha
esporadicamente a São Paulo para divulgar uma canção chama-
da
Malena
que não teve o êxito que ele esperava. Em muitas
dessas suas estadas em São Paulo, nos juntamos e compusemos
algumas canções mas nenhuma música nossa foi gravada na-
queles tempos em que os ídolos da juventude eram Demetrius,
DEMETRIUS
MEDEUOAPELIDO
E
ROBERTOCARLOS
, UMAPARCERIA
Tony Campello, Sérgio Murilo, Ronnie Cord, Carlos Gonzaga,
Wilson Miranda, entre outros.
Alguns anos depois, mais precisamente em 1967, fui procu-
rado por um menino chamado Ed Carlos. Ele pediu que eu
assinasse uma autorização para que pudesse gravar
Edifício de
Carinho
. Ele me mostrou a música e disse que os autores eram
Roberto Carlos e eu.
"Ed, nunca ouvi essa canção antes. Não é minha. Não posso
assinar”, eu disse. Mas ele insistiu muito para que eu assinasse,
armando que sem minha autorização, Roberto Carlos não
deixaria que ele gravasse a canção. Não consegui resistir aos
pedidos e aos argumentos do Ed Carlos. No mesmo ano, ele
gravou
Edifício de Carinho
num compacto simples e a música
fez muito sucesso. Curiosamente era o lado B do disco. A can-
ção gravada no lado principal foi
Belinha
, autoria de Toquinho
e Vitor Martins.Nesses anos todos, nunca tive oportunidade de
conversar com Roberto sobre esse assunto. Sigo achando que,
depois que lhe mostrei
Edifício de Pai-
xão
que z sozinho, ele tenha
cado com o tema na cabe-
ça e desenvolvido outra
música usando ape-
nas a mesma ideia.
Foi muita genero-
sidade dele dar-
-me uma parce-
ria,mas é preciso
confessar, mes-
mo depois de
quase 50 anos,
que a autoria de
Edifício de Carinho
pertence apenas a
Roberto Carlos.
TOMGOMESEDEMETRIUS
TOMGOMES, ÁLVARO, IRMÃODEDEMETRIUS, OARTISTA,
ENTREDUASFÃSEWALTERSILVA COPACABANADISCOS­
HELDERMALDONADO
DIVULGAÇÃO
1...,46,47,48,49,50,51,52,53,54,55 57,58,59,60,61,62,63,64,65,66,...72