Background Image
Previous Page  9 / 56 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 9 / 56 Next Page
Page Background

9

www.portalsucesso.com.br

Sou assinante do Apple Music. Acho o máximo. Lembro da dificul-

dade que tinha na adolescência pra ouvir lançamentos, pra ter infor-

mações sobre os artistas. Ficava ouvindo as rádios, esperando que

tocassem determinada música. Carregava uma pilha de discos pesa-

dos pra cima e pra baixo, pra ouvir com os amigos. Hoje é outro papo,

é livre escolha. Não sei bem como funciona o pagamento disso para os

artistas mas, como consumidor, acho ótimo.

» Graças ao

The Noite

, o Ultraje tem a oportunidade de tocar

diariamente naTV aberta. Ainda assim, já li críticas a você nas

redes sociais por fazer parte do elenco do programa...

É um privilégio fazer parte do programa. Recebi o convite do Danilo

em 2010. Eu era fã do David Letterman e até do Johnny Carson

(lendários apresentadores de talk-shows nos EUA), que eu assistia

quando morava nos EUA. Então sabia exatamente qual seria a mi-

nha função. Além de tocar, também cuido de toda a parte musical, es-

colho as canções para a entrada dos convidados. Acho sensacional. E

gravo duas vezes por semana, não atrapalhando a agenda de shows.

Acho importante o artista saber se adaptar. Tem artistas que mudam

o estilo de sua música, tem artistas que viram apresentadores, jurados

de reality shows, não vejo nenhum demérito nisso. Pelo contrário.

» Falando nisso, aceitaria ser jurado de um reality musical?

Não gostaria de julgar o trabalho de alguém. Até porque imagino que

seria meio rigoroso. É uma posição meio pedante, ficar cagando regra

pra outros artistas. Tem outra coisa: o candidato fica três meses no ar e

depois some. Porque é um negócio meio fake, sem personalidade, meio

forjado. Já imaginou um Cazuza em início de carreira participando

de um reality? Iriam dizer que ele era fanho, que jamais faria sucesso.

»OUltraje segue fazendo muitos shows? O que vocês tocam

atualmente, além dos grandes clássicos da banda?

Fazemos agora menos shows, um pouco pelo fato de eu não viajar de

avião. Então posso escolher mais pra onde ir (risos). O repertório

traz todos os nossos sucessos, alguns covers, algumas brincadeiras de

improviso... E procuramos não mudar, pelo menos não consciente-

mente, os arranjos. Porque eu detesto quando vou a um show de al-

guém e o cara toca um sucesso de uma maneira diferente.

» Falando de política, a música teve destaque na luta contra a

ditadura militar nos anos 60 e 70. Sente que hoje em dia os

artistas estão mais acomodados politicamente?

Isso é algo que falo desde os anos 90.Temos muitos artistas "vaselina",

que não querem se indispor. Mas na ditadura isso também já acon-

tecia. O pior é que tem também os artistas que te patrulham. Que tem

interesse no governo ou que caem naquele papinho de esquerdistas:

que o objetivo deles é ajudar os pobres, as minorias... O problema é

que a esquerda é muito cativante, principalmente pra estudantes, que

ainda não tem noção de como é o mundo. Insistem com esse papo que

somos contra os pobres. Isso não existe. Somos contra a esmola. Temos

que dar meios para a população prosperar. Até porque cada dia que

passa tem mais gente vivendo de bolsa-família. Se funcionasse, terí-

amos cada vez menos gente recebendo. Isso tudo me revolta.

» Arrepende-se de ter "comprado" essa briga na internet?

Não, foi bom ter entrado nessa, até porque motivei outras pessoas a

entrarem também. Mesmo tendo que aturar xingamentos gratuitos

e ofensas de quem não sabe e não tem condição de debater comigo.

Escrevo em cima de fatos, números, pesquisas, ao contrário de alguns

idiotas. E aí estão incluídos jornalistas que são manipulados e pagos

pelo governo. Esses caras querem, na verdade, jogar uns contra os

outros. Isso não é paranoia da minha cabeça. Eles realmente tentam

denegrir quem pensa diferente. E os mais ingênuos não se tocam que

a luta pelo fim da ditadura, pra esses caras, na verdade foi apenas

uma luta pra instituir outra ditadura.

» A "barriga pelada" continua sendo a "vergonha nacional",

como diz a letra de

Pelado

(sucesso gravado em 1985)?

Não só a barriga pelada, mas as obras superfaturadas, a violência...

Na verdade, a "barriga pelada" era simbólica. Representava não só

a fome, mas a falta de cultura, de saneamento... A fome pode ter di-

minuído, mas muita coisa piorou. Nosso país ainda é uma piada.

»Mais de 30 anos após o surgimento da banda, dá pra dizer

qual é o grande legado do Ultraje a Rigor?

A gente criou algo importante, sem dúvida. Temos o nome na história

do rock nacional e músicas que vão tocar ainda por um bom tempo.

Mas é uma importância subjetiva. Como um selo raro, que pode valer

muito para um colecionador e ser apenas uma velharia pra quem não

liga pra isso.Nuncame preocupei em fazer parte da história, até porque

ninguém vive de "importância". Mas é legal saber que o Ultraje in-

fluenciou algumas bandas e pessoas.

guilhermefernandez

apresentaçãodoultraje

poropção, bandafazmenos

showsqueemoutrasépocas