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samba
P
OR
T
HIAGO
M
OURATO
C
om mais de 45 anos de carreira, Arlindo Cruz viu sua
popularidade crescer junto ao público jovem nos últi-
mos anos. Um dos grandes motivos para isso é a sua
presença constante na telinha da Globo, tanto através das vi-
nhetas que compõe, quanto – e principalmente – por sua parti-
cipação no elenco xo do programa
Esquenta
, de Regina Casé.
Certa vez, ele mesmo disse que algumas pessoas na rua o cha-
mavam de “tio do Esquenta”. Como todo tio que se preze, Ar-
lindo tem mais é que colocar os sobrinhos no colo e ensinar as
coisas boas da vida, certo? Certíssimo.
Seu novo CD
Herança popular
(Sony Music) tem muito a
dizer já no título. Essa herança pode ser uma via de mão dupla.
Pode signi car tanto o legado que ele recebeu do grande mestre
e amigo de seu pai, Candeia, quanto o que ele quer deixar para
essa juventude que o conheceu através da televisão. Curiosa-
mente, esse é o primeiro álbum totalmente autoral da carreira
de Arlindo, apesar de nem todas as faixas serem inéditas. “Na
verdade, há duas regravações:
Somente sombras
, gravada em 1989
por Jair Rodrigues e
Ela sambou, eu dancei
, que entrou num dis-
co do grupo Raça”, explica.
Logo na abertura do disco, a faixa-título faz referências a Can-
deia e Cartola, dois mestres para Arlindo e ídolos dos amantes
da MPB. Foi com Candeia que Arlindo Cruz deu os primeiros
passos no mercado fonográ co, ainda no início dos anos 70, to-
cando cavaquinho. As músicas que se seguem misturam temas
como amor, modernidade e questões sociais. Esse último tema
mereceu uma ala inteirinha no disco, com quatro músicas em
sequência:
Ilicitação
,
Isso é felicidade
,
O mundo em que renasci
e
Jogador
. “Só depois de pronto é que percebi a similaridade nas
questões abordadas", comenta o cantor.
Em
O mundo em que renasci
, Arlindo conta com a participação
de Marcelo D2. Mas o rapper não foi o único convidado do tra-
balho. Hamilton de Holanda aparece na faixa-título, Maria Rita
em
Paixão e prazer
, Zeca Pagodinho em
Somente sombras,
Pedro
Scooby em
O sur sta e o sambista
e Mr. Catra em
Ela sambou, eu
dancei
. “Zeca Pagodinho e Marcelo D2 não podem faltar nos
HERANÇA
DOMESTRE
EMNOVODISCO,
ARLINDOCRUZ
REVERENCIASEUSMESTRES
EFUNDESEUTRADICIONAL
SAMBAAOUTROSESTILOS
COMOFUNKEHIPHOP
meus discos.Nesse, resolvi gravar um samba com funk e convidei
oMr.Catra.Maria Rita é uma pessoa muito amada,que já gravou
muitas músicas minhas. Já Hamilton de Holanda é um grande
músico e grande amigo”, a rma Arlindo, que não vê problema
na mistura de seu samba com funk ou hip-hop. Pelo contrário,
para ele há muito mais semelhanças do que diferenças. “Os gê-
neros tem a mesma origem e abordam temas bem parecidos que
são o povo, a periferia e a favela”.
Marido de Luana Piovani, o sur sta Pedro Scooby merece
um capítulo à parte nessa lista de convidados. Apaixonado por
samba, ele deu uma canja no CD e fez um desa o inusitado para
Arlindo Cruz. “A novidade é que o Scooby me desa ou a surfar
com ele”. Então, atenção, cariocas: tudo indica que vocês verão
mais um sambista surfando nas praias cariocas.
TEMPOSMODERNOS
O “tio do Esquenta” é bem pra frentex, como diriam os moder-
nosos dos anos 70. Apesar de reverenciar a velha guarda, Arlin-
do se coloca muito bem em relação às inovações dos tempos
atuais, tanto em relação à música quanto em questões do coti-
diano. O sambista recebe de braços abertos as atualizações so-
noras promovidas pela geração atual. “Acho que as experiências
são válidas se forem para valorizar melodicamente e nas letras,
sem perder o respeito com a raiz. Donga, Pixinguinha, Chico
Buarque, Almir Guineto e Zeca Pagodinho trouxeram inova-
ções ao samba, foram cronistas de suas épocas”.
O Donga citado por Arlindo foi o responsável pelo primeiro
samba gravado,
Pelo telefone
, em 1917. Em
Herança popular
, o
sambista trata de atualizar esse tema, adotando um meio mais
moderno de comunicação entre as pessoas, o WhatsApp. Isso
pode ser conferido no medley
Melhor parar / Whatsappiei pra ela
.
Apesar de aderir às novas tecnologias, Arlindo Cruz ainda prefe-
re um meio de contato considerado obsoleto pelos mais jovens.
“Eu ainda sou muito ligado ao e-mail, que é por onde resolvo
minhas tarefas,mando músicas,respondo fãs e realizo entrevistas.
Uso o WhatsApp apenas para falar com os meus lhos”.
WASHINGTONPOSSATO
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