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samba
P
OR
T
HIAGO
M
OURATO
M
odernidade sem deixar a tradição de lado. Assim
pode ser resumido o som que a cantora Lu Carvalho
apresenta em seu primeiro disco,
O samba que eu sei
(Saladesom Records). Sobrinha e herdeira musical de Beth
Carvalho, ela condensa toda uma vida dedicada ao samba em
14 faixas. O resultado é um trabalho que homenageia seus pre-
cursores, principalmente a tia, mas mostra que Lu tem um ca-
minho próprio para seguir e sabe bem como fazê-lo.
A parte mais tradicional do disco
cou por conta dos mestres
do estilo. Logo que começou a separar o repertório, Lu Carvalho
foi atrás de alguns dos melhores compositores do samba. “Eu
mesmo liguei para pessoas como Noca e Arlindo Cruz pedindo
músicas. Foi uma seleção bem criteriosa”, explica. É claro que a
tiazona não
caria de fora desse momento, participando de todas
as etapas, desde a concepção até o lançamento do trabalho.“Beth
me abriu um arquivo que ela chama de baú. Lá tinha uma in
-
nidade de composições inéditas e eu poderia usar qualquer
uma delas.Incrivelmente,recebi tantas músicas boas que não
precisei recorrer àquele material”, relembra.
Mesmo assim, Lu fez questão de garantir um espaço es-
pecial para a tia no disco. A começar pela regravação
de
Coisinha do pai
que, além de ser um dos maiores
sucessos da sambista,marcou a estreia o
cial de Lu
na música. “Eu tinha apenas dez anos e participei
da gravação, no coro infantil”. No entanto, Lu
preferiu reconstruir a faixa em ritmo de acalanto.
"Desde pequena, ouvindo a letra, eu imaginava
um pai cantando para a
lhinha”, diz.
Para ela, seria impossível imaginar sua tia de
fora do disco de estreia. Ouvir a voz de Beth Car-
valho em
O samba que eu sei
poderia ser considerada
uma espécie de benção e aval para uma carreira pro-
missora. Contudo, essa missão se
tornou um pouco mais compli-
cada. Em 2012, quando o ál-
bum estava sendo gravado,
Beth Carvalho
cou interna-
da por sete meses, devido a
um grave problema na coluna.
Nem tia,nem sobrinha descar-
taram a parceria e, para garantir
o registro,elas usaramde um expe-
diente pouco comum. “Montamos
um estúdio no quarto onde ela estava
internada”, diz Lu.A gravação proporcio-
nou momentos felizes, de boas lembranças.
“Fiquei muito emocionada. Isso demonstra
todo o carinho que ela tem por mim”, disse Beth
Carvalho na época. “Luciana tem personalidade
NOBRE
LINHAGEM
SOBRINHADEBETHCARVALHO,
LUCARVALHO
HOMENAGEIAEREINVENTAO
SAMBAEMSEUPRIMEIRODISCO QUECONTACOMPARTICIPAÇÕESESPECIAIS
GUTOCOSTA
própria, uma voz bonita e agradável, além de ser bonita por den-
tro e por fora. Ela tem verdade e merece todo o sucesso do mun-
do”, concluiu. O dueto pode ser conferido em
Receita do prazer
,
música que exalta o gênero samba. O trabalho ainda conta com
as participações de Arlindo Cruz em
Ah! se eu soubesse
, Diogo
Nogueira em
Quero ter você
, e Mauro Berman e Misael da Hora
em
Não me responsabilizo
, a mais pop do disco.
CARIOCADA GAROA
Curiosamente, apesar de ser do Rio, berço do samba, Lu Car-
valho acabou construindo uma sólida carreira na capital paulista.
“São Paulo é muito grande e valoriza a cultura. Em cada bairro,
tem pelo menos cinco espaços para shows. Também tenho feito
uma turnê pelos CEU's (Centros Educacionais Uni
ca-
dos). Essas escolas, que
cam na periferia, tem teatros
belíssimos”, diz Lu. “De fato, São Paulo tem sido
mais forte que o Rio em relação à agenda de shows.
É uma praça muito importante.Tem público que
gosta de samba e casas conceituadas", explica seu
empresário Alexandre Martins.
Executivo de marketing e da área artística,Ale-
xandre planeja agora os passos para tornar o
nome de Lu Carvalho forte em outras
praças. “Ela já é conhecida do pessoal
do samba. Sua história e as pesso-
as com quem se relaciona agre-
gam muito valor à sua carreira.
Mas temos que tratá-la na mídia
como uma artista nova. Começaremos
por São Paulo e Rio e só depois partiremos
para outros locais”, explica, revelando um trunfo
de sua artista. “Há poucas cantoras no samba.
Com o passar dos anos, temos notado uma re-
novação nos nomes masculinos, mas o mesmo
não acontece com as mulheres.Acredito na Lu
por ela ter essa história e pelo vácuo de gran-
des nomes femininos na atualidade”.
Só por um desvio muito grande no cami-
nho, Lu Carvalho não seguiria a carreira mu-
sical. Sua relação com a música começou
quando ainda estava na barriga da mãe, Vâ-
nia, irmã de Beth Carvalho. Na época, a
sambista era noiva do compositor Eduardo
Souto que, ao lado de Paulinho Tapajós, es-
creveu
Cantiga por Luciana
, em sua home-
nagem. A faixa se tornou um clássico da
MPB após ter vencido o IV Festival In-
ternacional da Canção (1969), quando
foi defendida por Evinha.
BETHCARVALHO,
ARLINDOCRUZE
DIOGONOGUEIRA
PARTICIPAMDO
ÁLBUMDELU,
CUJACARREIRA
É MAISFORTE
EMSÃOPAULO
