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HISTÓRIAS
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S
ão Paulo, anos 60.
Eram centenas de lojas de discos espalhadas por toda a
cidade e nós, divulgadores, éramos obrigados a visitar
mensalmente todas elas, vestidos de terno e gravata.
O sucesso de um artista dependia muito de nosso esforço e
nosso trabalho era dividido em três atividades.
A primeira era conquistar o máximo espaço visível nestes esta-
belecimentos comerciais. Nas paredes, nas vitrines, nos balcões...
"Conquistar espaços nas vitrines das principais lojas de discos é
trabalho de guerrilheiro", dizia Fernando Lobo, pai de Edu Lobo
e, então, Diretor de Relações Públicas e Divulgação da Philips -
Polydor, hoje Universal Music. Na verdade, ele dirigia o marke-
ting da gravadora, mas naquela época ainda não existia essa pala-
vra. E ele exigia todo nosso empenho. Isso signi”cava tirar desses
espaços os posters e cartazes da CBS,Odeon,RCA,Continental,
Chantecler, etc. (gravadoras concorrentes) e colocar os nossos. E
para esta tarefa necessitávamos da amizade dos balconistas. Até
inventei uma história.Dizia que era diretor social de um clube na
Penha, bairro onde eu morava, e que precisava decorar as paredes
do salão de festas. Para tanto necessitava de posters de Roberto
Carlos, Beatles, Johnny Rivers, etc. Se eles, balconistas, me des-
sem esse material já velho,não precisariam nem se preocupar com
todo o trabalho que daria para retirar porque eu mesmo faria isso
e ainda colocaria no lugar cartazes novos de Elis, Jair Rodrigues,
Bee Gees, Ronnie Von...Todos da gravadora onde eu trabalhava,
claro! E essa estratégia sempre dava certo. O meu amigo Dercy
Costa, que era divulgador da CBS naqueles anos dourados e
hoje é empresário artístico, ”cava louco da vida quando chega-
va nas lojas e via o festival Philips-Polydor decorando a maior
parte dos espaços.
A segunda consistia em apresentar os artistas em início de
carreira aos lojistas. Levávamos os artistas até as lojas e, no ca-
minho, os orientávamos para que fossem simpáticos com os
gerentes e com os balconistas. Eram esses pro”ssionais que fa-
ziam o interface entre o público comprador e o produto. Se
EAGENTEAINDATINHAQUE
USARTERNOEGRAVATA!
FOTOS: ARQUIVOUNIVERSALMUSIC
TOMGOMESECAETANOVELOSONAPRIMEIRANOITEDEAUTÓGRAFOSDOCANTOR, EM1968
"FOI UMANOITEQUEFAZPARTEDAHISTÓRIADAMÚSICABRASILEIRAEEU, FELIZMENTE, PUDEPARTICIPARATIVAMENTEDELA."
gostassem do artista ou do seu LP, compacto simples ou duplo
(eram os formatos da época), certamente sugeririam que seus
discos fossem adquiridos pelos consumidores. Assim aconteceu
com Gal Costa, divulgando
Baby
e Mutantes lançando sua mú-
sica de estréia
Ela é minha menina
, entre muitos outros artistas.
E a terceira atividade, a mais festiva, era a organização de tardes
e noites de autógrafos de artistas consagrados ou à beira do su-
cesso.Lembro de uma em especial: a primeira noite de autógrafos
de Caetano Veloso, quando do lançamento do seu disco homô-
nimo. Ele morava na Rua São Luiz, no centro de São Paulo, e o
espaço onde organizei a festa ”cava na Galeria Metrópole, há
apenas 50 metros de seu apartamento.Bastante conveniente para
o então jovem artista baiano. A loja era um centro de atividades
culturais onde se vendiam livros, revistas e discos. Chamava-se
apropriadamente Ponto de Encontro.Era o início do movimento
tropicalista e Caetano já despertava o interesse e a admiração do
público. Foi uma noite que faz parte da história da música brasi-
leira e eu, felizmente, pude participar ativamente dela.
"CONQUISTARESPAÇOSNASVITRINESDASPRINCIPAISLOJAS
DEDISCOSÉTRABALHODEGUERRILHEIRO" FERNANDOLOBO