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MPB
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ELDER
M
ALDONADO
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Z
élia Duncan completou 30 anos de carreira em 2011. A
princípio, a comemoração dessa marca parecia ser de cer-
ta forma comum e protocolar. Isso porque, no início do
ano passado, a cantora lançou o CD e DVD ao vivo
Pelo sabor do
gesto – em cena
. Como qualquer projeto desse tipo, reúne alguns
sucessos, releituras, músicas inéditas e participações especiais
(nesse caso, do casal Fernanda Takai e John Ulhôa, Marcelo Je-
neci, Christian Oyens e Paulinho Moska).
Parecia que a festa estava completa e o ciclo dos primeiros 30
anos de atuação, fechado. Porém, Zélia não se contentou apenas
com esse material comemorativo. Em vez de aproveitar o mo-
mento para receber outras homenagens, a cantora subverteu essa
lógica e resvoleu homenagear dois de seus ídolos: Luiz Tatit e
Itamar Assumpção, pilares essenciais da Vanguarda Paulista.
Para Tatit, Zélia montou em parceria com a atriz Regina Bra-
ga o espetáculo teatral
ToTatiando
. No musical, a cantora inter-
preta as personagens das músicas do compositor,que
tem como marca criar letras que misturam partes
cantadas e outras declamadas. Com um humor
cínico e sutil, a cantora revela no palco que as
aulas de dramaturgia que teve na Casa das Artes
de Laranjeiras (Rio) durante o início da fase adulta
surtiu resultado positivo, já que a feroz crítica teatral
foi receptiva ao projeto. “Convidei a Regina Braga
para desenvolver o espetáculo e dirigi-lo. Fomos des-
cobrindo vários personagens dentro das canções e de-
senvolvemos uma linguagem dramatúrgica para colo-
car isso em prática ”, explica Zélia.
Um termômetro para avaliar
essa declaração será o DVD que
a cantora lançará no primeiro se-
mestre de 2013.O projeto é baseado em uma apresen-
tação de
To Tatiando
gravada no teatro Tuca, em São
Paulo, em 2012. “Nunca é fácil transferir um musical
ou uma peça para o DVD. Mas nesse caso, tenho cer-
teza que atingiremos um ótimo resultado”, garante.
Simultaneamente, a cantora acabou de lançar o disco
Tudo esclarecido
, que resgata músicas consagradas e
faixas inéditas de Itamar Assumpção. O projeto é
uma parceria entre a Duncan Discos e a Warner. A
ideia de Zelia lançar um álbum com a obra de Itamar
não é nova. Desde jovem a cantora alimentava o de-
sejo de se tornar uma das "pastoras" de Itamar, como
foram Suzana Salles, Virgínia Rosa, Vânia Bastos,
Vange Milliet, Tetê Espíndola e outras, nas bandas
30anos
VÁRIAS
vezes
ZÉLIADUNCAN
COMEMORA TRÊSDÉCADASDECARREIRACOMCDQUERESGATA
AOBRADE ITAMARASSUMPÇÃOEESPETÁCULOEMHOMENAGEMALUIZ TATIT
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Isca de Polícia e Orquídeas do Brasil. Porém, ela chegou o mais
próximo disso quando dividiu o palco com o ídolo numa noite
que ainda reuniu Cássia Eller,Tetê e Ná Ozzetti.
Mas foi em 2003, quando o músico morreu, que Zelia real-
mente cogitou gravar um CD tributo. Só agora, dez anos de-
pois, o disco se tornou realidade. “Fiz o resgate pois adoro Ita-
mar. Já toquei com o cara e inclusive neste ano gravei uma
música inédita em que ele me homenageia, batizada de
Zelia
Mãe Joana
. Itamar tem uma obra perfeita que todos deviam
conhecer melhor, inclusive os paulistas”, conclama Zelia.
O disco foi produzido por Kassin e conta com participações de
velhos parceiros da cantora, como Marcelo Jeneci, Pedro Sá, Ste-
phane Sanjuan,¦iago Silva e Christiaan Oyens.NeyMatogros-
so divide os vocais de
Isso não vai car assim
e Martinho da Vila
aparece na canção
É de estarrecer
. “Kassin foi brilhante, pois esco-
lheu muito bem os músicos e conduziu tudo commuito cuidado.
Ney sempre gostou de Itamar, então não tinha como não chamá-
-lo. E o Martinho, por ser um mestre, também legitima ainda
mais o processo todo. Os três arrasaram”, derrete-se Zelia. Em
2013, a cantora §cará em cartaz com shows convencionais e apre-
sentações em homenagem a Itamar e a Tatit.
O INVERSODOMOVIMENTO
Zelia nunca foi óbvia. A artista iniciou a carreira
em Brasília, no momento em que bandas de
rock e punk como Aborto Elétrico e Plebe
Rude surgiam no Planalto. Mas em vez de
seguir a onda dominante no período, ela
resolveu traçar outros caminhos.
Atitude, aliás, que se tornaria uma
constante em sua carreira. “Nunca
cantei para me moldar aqui ou ali. Com
o tempo, fui descobrindo mais a respeito da artista
que quero ser. Nem sempre estou seguríssima de
tudo, mas corro atrás, me arrisco e colho muitos
frutos. Porém a escolha de um caminho mais sin-
gular sempre tem um preço,mas precisamos pagá-lo
para criarmos com liberdade”, acredita a artista.
E dentro de seus negócios Zélia também dá priori-
dade para quem cria com liberdade. Através de seu
selo, Duncan Discos, ela tem lançado projetos de ar-
tistas da nova MPB, como Alzira Espíndola, Lucina e
Luiz Waack.Trata-se de um selo com foco em apostas
pessoais da cantora. “Como trabalho muito, uso o selo
para lançamentos eventuais. É coisa de sonho mesmo, já
que adoro trabalhar. Sempre estou ligada ao que aconte-
ce na música nacional e de olho nos novos talentos. Atu-
almente, se pudesse eleger duas cantoras que me impres-
sionam, citaria Ana Costa e Tulipa Ruiz”, revela.
WASHINGTONPOSSATO