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MPB
A
s chances de se ouvir Leila Pinheiro cantando no rádio
e na televisão são bem pequenas. Mas ela nunca traba-
lhou tanto em 30 anos de carreira. A rigor são 32, pois
começou a contá-los em 1980, quando fez o primeiro show em
Belém, sua terra, e não em 82, quando gravou o primeiro disco
– relançado pelo selo Discobertas no ano passado. No momento,
Leila anda às voltas com a divulgação do novo (17º) álbum,
Raiz
,
em que interpreta só compositores da Amazônia. Está atenta ao
lançamento na Europa e Japão de
Céu e mar,
disco inédito feito
com o guitarrista Nelson Farias, que acaba de sair pelo selo inglês
Far Out Recordings. Começa a circular pelo Brasil com o show
Leila canta mulheres
. Se prepara para a turnê nacional, em junho,
do espetáculo promovido pelo Prêmio da Música Brasileira, com
Arlindo Cruz, Alcione e João Bosco. E logo voa para shows no
Japão e em Londres, com Roberto Menescal.
Não é pouca coisa. “Este ano começou muito melhor do que o
ano passado”, reconhece a cantora. “Não posso parar, dependo só
de mim mesma, não tenho patrocínios". Leila se considera desde
sempre uma artista da MPB. “Nesses 30 anos, Ÿz um caminho.
Meu último disco está umbilicalmente ligado ao primeiro, que já
tinha Tom, Caetano, Donato. Sempre gravei músicas atemporais.
Tenho um nome, uma trajetória, uma dedicação obsessiva para
que tudo saia direito, busco sempre a beleza”, aŸrma. Mas, como
se diz, há um porém: “O mercado virou uma zorra, a MPB não
tem espaço na tevê, no rádio; disputamos mercado com o sertane-
jo, o axé, uma concorrência quase desleal. A grande mídia só se
interessa por coisas descartáveis, o popularesco e o dançante.
Nada tenho contra os artistas desses segmentos, mas não é justo
que a mídia só se ocupe disso, como se nada mais existisse”.
No disco
Raízes
, lançado no Brasil pela Atração, e que sairá tam-
bém no Japão (onde já é bem conhecida), Leila canta autores como
os paraenses Nilson Chaves,Vital Lima,Márcio Montoril; Eliakin
RuŸno, de Roraima, e a pajé marajoara Zeneida Lima, composito-
ra e ativista social de 70 anos, que o Brasil precisa conhecer. E ao
lado dos compositores do Norte, ela reserva duas faixas-bônus para
Da
AMAZÔNIA
ao
JAPÃO
ENVOLVIDAEMVÁRIOSPROJETOSETRABALHANDODEFORMA INDEPENDENTE,
LEILAPINHEIRO
RECLAMADAFALTADEESPAÇODAMPBNORÁDIOENA TV
FERNANDOPETTERMAN
o ídolo Tom Jobim, muito ligado à natureza:
Domingo azul do mar
e
Sempre verde
– esta, a primeira versão em português de
Forever
green
, feita por Paulo e Daniel Jobim, Ÿlho e neto de Tom. O Ma-
estro Soberano também está no álbum
Céu mar
, gravado em 2010
com produção direcionada ao mercado internacional, no formato
voz e guitarra eletroacústica, com músicas de Ivan Lins, Dori
Caymmi,Guinga,Edu Lobo,Gilberto Gil,Djavan e Marcos Valle,
que foi quem indicou o trabalho para a Far Out.
As gravações são importantes, mas têm o papel de suporte.
“Gravo meus discos e vou pro palco, que é onde ganho dinheiro”.
Para estar sempre em atividade, ela criou várias alternativas de
shows, a maioria de voz e piano. É o caso de
Leila canta mulheres
,
cujo roteiro vai de Chiquinha Gonzaga a Adriana Calcanhotto,
Maysa,Marisa Monte,Marina e Mart’Nália;
Leila Pinheiro can-
ta e toca João Gilberto
e
Leila canta Dalva de Oliveira
. Tem ainda
o show com Menescal, relativo ao disco
Agarradinhos
(2007) e o
show com banda, do CD
Meu segredo mais sincero
(2010), com
músicas de Renato Russo. (P
OR
J
UAREZ
F
ONSECA
)
LIBERDADEARTÍSTICAEPARCERIAS
A Tacacá Music, selo e produtora criados por
Leila Pinheiro, atua como centro administrativo
da carreira dela. No que diz respeito aos discos,
sempre associada a outro selo ou gravadora,
como a Biscoito Fino e a Atração, pelos quais
saíram os álbuns mais recentes. “A Tacacá
existe para que eu tenha liberdade artística em
meus trabalhos”, argumenta. “Entrego o disco
pronto, pois gravo em meu estúdio, e depois
discuto o projeto gráfico, a fabricação, a
distribuição. A formade trabalhar comparcerias
é a melhor. Meu escritório não teria nem como
pensar em distribuição, por exemplo”. MPBista
até a raiz, Leila revela ter desistido de fazer
associações com as grandes gravadoras desde
que a Universal propôs que ela gravassemúsica
eletrônica. “Queriamque eu fizesse umdisco de
drum & bass”, relata.
LEILAPINHEIRO
"GRAVOMEUS
DISCOSEVOUPRO
PALCO, QUEÉONDE
GANHODINHEIRO"