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DATA ESPECIAL
P
OR
H
ELDER
M
ALDONADO
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S
e o samba hoje é popular entre todas as esferas sociais,
deve essa conquista a Martinho da Vila. Ao lançar o pri-
meiro disco da carreira, em 1969, o cantor caiu nas graças
de todo o Brasil. Esse acontecimento foi providencial na disso-
lução do preconceito em torno desse gênero. Principalmente
por parte da classe média, que à época tinha aversão à arte pro-
duzida por classes menos favorecidas.
O disco soa como uma coletânea de sucessos do cantor. No
repertório, há faixas como
O pequeno burguês
,
Casa de bamba
,
Quem é do mar não enjoa
e
Pra que dinheiro?
. Ou seja: o primei-
ro álbum de Martinho não tinha como não atingir tal êxito. E
o cantor tem completa noção da força desse repertório. Tanto
que neste ano, quando sua carreira completa 45 anos, ele resol-
veu fazer uma releitura da obra em estúdio.
A princípio, o cantor almejava apenas convidar amigos e fa-
miliares para regravar as músicas com poucas mudanças nos
arranjos originais. Porém, a Sony Music fez uma proposta irre-
cusável a Martinho: implementar nova roupagem às canções,
com o auxílio do produtor e amigo de longa data Rildo Hora.
Omúsico não pensou duas vezes e aceitou a proposta. "Quando
gravei esse disco, tínhamos poucos recursos em estúdio.Mesmo
assim, o resultado foi muito satisfatório para a época.Mas nada
é tão bom que não possa ser melhorado. Por isso, aproveitei essa
gravação para corrigir alguns arranjos, melodias e instrumenta-
ções que não me agradavam por completo", explica Martinho.
Batizado de
4.5 atual
, o disco traz três faixas com arranjos de
cordas,metais e piano:
Samba dos passarinhos
,
Pãozinho de açúcar
e
Partido-alto de roda
. O projeto também marca o retorno de
Martinho à Sony Music, após passar dez anos como artista
contratado da MZA. E a volta não poderia ser mais opor-
tuna. A™nal, foi pela RCA e BMG (companhias incorpo-
radas pela Sony) que Martinho lançou seus discos entre
1969 e 2002. "São tantos projetos em parceria
com a Sony que já posso ser considerado prata
da casa", ressalta Martinho.
Em teatros e casas de espetáculos, o repertório
do CD será apresentado na íntegra, com direito a his-
tórias sobre a trajetória do cantor. Contudo, em apre-
sentações em feiras, festivais e ao ar livre, Martinho
descarta levar esse formato. "Nesse caso, é preciso bom
senso. Quando realizo um show sozinho, no qual o pú-
blico foi ao local exclusivamente para me ver, é possível
45ANOS
DEPOIS
DE VOLTAÀSONYMUSIC,
MARTINHODAVILA
LANÇADISCO
4.5 ATUAL
, QUEREVISITASEUPRIMEIROÁLBUMDEESTÚDIO
PIERRE VICARINI
MARTINHODAVILA E, ACIMA, ASCAPAS
ORIGINALEATUALDOPROJETO
SAMBISTATAMBÉMSERÁHOMENAGEADO
PORSEUSFILHOSEMPROJETOSMUSICAIS
NOSQUAISFARÁPARTICIPAÇÃOESPECIAL
ousar e abusar na apresentação. Já
em festivais, é mais prudente tocar
os grandes sucessos e seguir o pro-
tocolo", declara.
A princípio, esse será o único pro-
jeto que Martinho lançará para co-
memorar essa marca em sua carreira.
Seus ™lhos, porém, preparam discos
para homenagear o pai. Juliana eTu-
nico Ferreira pretendem lançar ál-
buns abrangendo diferentes fases da
carreira do cantor. "Eles me avisaram desse desejo e parece que já
estão em estúdio. Talvez eu participe em algumas faixas desses
projetos", divulga o patriarca da família Ferreira.
VISÃO CRÍTICA
Martinho é muito mais que um simples cantor. É um artista
multimídia. Durante sua trajetória nas artes, também se arriscou
como escritor. Escreveu dez livros, sendo o mais recente
Fanta-
sias, crenças e crendices
, de 2011. Apesar de prolí™co na literatura,
Martinho alega que escrever é apenas um hobby. "Nunca levei
esse ofício muito a sério, pois para emplacar um livro é preciso
divulgá-lo exaustivamente. Eu não tenho tempo disponível para
isso e também não vejo muito retorno nesse tipo de investimen-
to", relata Martinho.
A a™rmação é fundamentada na visão crítica que Martinho
tem do mercado editorial. Segundo o artista, mesmo com o li-
geiro crescimento econômico do país, o preço das obras
literárias ainda é inacessível ao grande público. "Um
lançamento custa em média R$ 45. Enquanto
esse for o valor praticado, di™cilmente o brasilei-
ro criará o hábito da leitura", acredita.
Ele estende essa crítica a outras áreas
do entretenimento. Segundo Marti-
nho, CDs e demais produtos culturais
deveriam atrair o consumidor através
de preços convidativos. "Os modelos vigen-
tes são antigos. Precisam ser reavaliados
para manter a indústria cultural em evidên-
cia. Do contrário, a derrocada de vários seg-
mentos e a má formação cultural da socieda-
de continuarão em curso", opina.